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Todo mundo aqui se lembra do primeiro amor? Que bom. Eu também me lembro, e muito. E olha que ela está até hoje lá meu Facebook.
Mas por que será que a gente não se esquece do primeiro amor? Não sei, mas acho que não esquecemos porque além de primeiro amor, quase sempre é também a nossa primeira frustração amorosa. Pelo menos no meu caso foi assim.
A menina que eu gostava era a menina mais linda que eu conhecia. E não estou falando isso só para romantizar a estória. Eu sempre tive esse péssimo defeito de me apaixonar pelas mulheres mais lindas e impossíveis.
Ela era delicada, gentil e tinha um sorriso que fazia as flores desabrocharem quando ela passava. E até hoje ela tem esse sorriso, e até hoje eu agradeço por essas merdas de internet e facebook existirem. Porque seria muito triste não ter mais nenhum tipo de contato com uma menina que fez por tanto tempo parte dos meus sonhos.
E eu sonhava mesmo. Ficava imaginando cenas, ensaiando falas, planejando brincadeiras, e todas aquelas coisas que todo mundo acha que só as meninas fazem. Bobagem. Pois quando se ama, somos todos igualmente tolos.
Mas, como os meus três mil e quinhentos amores impossíveis, ela nunca chegou a ser minha namorada ou coisa parecida. Primeiro porque eu realmente não era um menino bonito, que merecesse namorar uma princesa como ela. Segundo, porque nossas idades eram muito próximas. E as meninas não sonham com meninos da mesma idade. Elas sempre estão sonhando com os mais velhos, os maiores, os mais cafajestes.
Mesmo assim, meu amor por ela durou uns bons anos, muitos mesmo. Até que num belo dia fui a um aniversário dela, como fazia todo ano. E por lá aconteceu um dos maiores traumas da minha vida.
Era uma festa que já não tinha gosto de infância. Ainda éramos amigos, mas ela já tinha outros mais velhos, mais interessantes. Lembro que era uma turma de jovens que até já tinha carro.
Além de carros, naquela época, as pessoas começavam a ter aqueles aparelhos que a gente chamava de Pager, de Bip. Lembra deles? A gente ligava para uma central e ficava ditando a mensagem que deveria ser mandada. Era interessante.
Mas por que citei o tal Pager? Eu explico. Porque naquele aniversário, a menina que eu gostava ia ganhar um Pager de presente dos pais. E não me recordo o porquê, mas eu sabia que a surpresa da noite seria essa: ela ganharia um Pager de seus pais.
E assim aconteceu. Lá pelas tantas da noite, ela ganhou o tal do aparelho e todos ao redor ficaram esperando a vez de pegar um pouco ele na mão, para ver como aquela coisa funcionava.
Então, de mão em mão, aquele aparelho foi passando, passando, até que chegou para eu conhecer. Um legítimo motorolla, lindo, todo arrendondado. E que eu segurava com todo o cuidado do mundo quando, de repente, aconteceu. Aquele aparelho que apenas mostrava as horas, começava a gemer em minhas mãos. Uma, duas, três vezes, até que suas luzes acenderam com mais força e um texto terrível surgiu na tela: Feliz aniversário. Eu te adoro.
Imediatamente, e até com uma certa tontura, entreguei o Pager pra ela e me recolhi. Não fui embora ou coisa assim. Mas depois de ler aquilo, tudo o que eu via de puro no sorriso dela tinha se desfeito. Sim, ela tinha um namorado, um amor, um admirador ou coisa assim, e ele não era eu.
Lembro que nessa época a banda red hot chili peppers tinha acabado de estourar, e eu já era um puta fã. Tanto, que mesmo atordoado ali na festa, ainda tive coragem de colocar Under the Bridge para tocar. E enquanto eles cantavam, eu sangrava.
Aquilo era a perda da inocência escorrendo de mim. E se você quer saber se pelo menos uma vez tentei dizer pra ela o quanto eu gostava dela, a resposta é não. Talvez, porque naquele tempo ainda não existia vodka, sei lá.
Hoje em dia, sei que ela namora, que posta fotos felizes e que tem um lindo par de seios que infelizmente não pude acompanhar o crescimento.
Que saudade daquele tempo. Que vontade de mandar este texto pra ela. Quanta coisa a gente deixa de viver.
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