Vida

Acho que tudo começou depois que o meu casamento acabou. Ali percebi que minha vida se espalhou como se fosse um monte de areia pelo chão.

Depois da separação, nunca mais me firmei em emprego algum; voltei a beber, a jogar e a viver a vida como se fosse um zumbi.

Ultimamente, nem ando bebendo. Mas é mais por falta de dinheiro mesmo. Cheguei num ponto que já não tenho grana nem pra me suicidar.

E comigo não tem esse negócio de ficar pondo culpa em crise econômica. A culpa é minha. Sempre foi minha. E sempre vai ser minha.

Mas o pior não é isso. O que mais me dói nessa coisa toda é não poder ajudar meus filhos nos estudos.

A mais velha, agora, está fazendo faculdade. E eu não tenho condições sequer de comprar um livro. Já cheguei até a pedir desculpas; disse que sentia muito e que também me sentia muito envergonhado pela minha situação. Mas minha filha é um anjo.

Falou que por enquanto está conseguindo pagar a mensalidade com seu salário e que eu não preciso me preocupar. Mas é triste. É muito triste não poder ajudar um filho a realizar um sonho. Chega a vir uma lágrima na garganta só de pensar.

E a conclusão que eu tiro até este momento em que ainda estou vivo é que, às vezes, um pouco a mais de esforço que você deixa de fazer quando é mais jovem, acaba fazendo muita falta lá na frente.

Se não tivesse sido tão preguiçoso, indeciso, inseguro, talvez hoje estivesse tudo bem. Mas, infelizmente, não foi bem assim que as coisas aconteceram pra mim. E é só isso o que eu sinto; e é também o que eu lamento.