É difícil acreditar, mas este carnaval eu passei em branco. Isso mesmo, em branco. E isso não é nenhuma metáfora tentando dizer que cheirei cocaína pra caralho. Nada disso.
Na verdade, eu até saí no primeiro dia de farra, mas tive uma crise de consciência depois dessa noite e preferi me trancar no quarto e me fingir de morto. Só saí pra cagar ou pegar guloseimas na geladeira. Por insistência da minha mãe, claro.
Só sei que os dias voaram. E quando acordei já estava na hora de embarcar no ônibus pra voltar pra terra do nunca. Então comprei a passagem, tropecei na escada rolante, entreguei o comprovante pro motorista e subi no ônibus.
Lá dentro, eu deveria sentar na poltrona número 20. Deveria, porque já tinha alguém no meu lugar. Era um menino, de três anos no máximo, e sua mãe, também muito jovem. Daquelas que trepam ainda meninas e não tem grana pro Citotec.
Bom, aí, mesmo me cortando o coração, tive que informá-la que uma daquelas poltronas era minha e que conseqüentemente o menino ia ter que ir no colo dela.
Ela, imediatamente, meio envergonhada, topou. Só que topou sentando-se na poltrona da janela. Entendeu? Isso mesmo, a da janela era minha. Tudo bem, abri mão, “sou adulto”. Desgraçada.
Minutos depois, partimos. Ela com aquele vermezinho em cima dela. E eu com os vermezinhos dentro de mim, como sempre. Eu até tentava perdoar a situação, me colocar como alguém maior, de bom coração, mas não dava. Aquele filho da puta de três anos não parava de falar um segundo sequer. A luz do teto ele acendeu e apagou umas duzentas vezes. Era impossível se concentrar e pegar no sono.
A certa hora, quando eu estava quase dormindo, o moleque começou com um tal de: mãe, quero fazer coco. Quando ouvi aquilo tive a certeza de que aquilo era deus me testando.
A mãe, como não podia ser diferente, me pediu licença e levou sua fabriquinha de bosta pra cagar no banheiro do ônibus. Do meu lugar eu só ouvia a porta abrir e fechar várias vezes. Acho que o trinco estava quebrado e os passageiros do fundo em breve também iam começar a odiar uma criança.
Bom, só sei que antes do natural a dupla voltou, me acordou, me incomodou, me pediu licença e sentou. Eu na verdade não dormia, mas era obrigado a me fingir de morto senão o filho da puta do moleque começava a puxar papo comigo. Foda.
Minutos depois, o moleque improvisou de novo: mãe, quero fazer xixi. A mãe, que nem era tão mãe como as de antigamente ameaçou o moleque sem culpa nenhuma. Disse: pode mijar nas calças, lá no fundo não te levo mais. Nessa hora até gostei da atitude dela. Não deixou o moleque dominar a situação.
O problema é que ele tava meio ruim da barriga mesmo, porque às vezes vinha um cheiro de esgoto na minha cara muito estranho. Enquanto estávamos na marginal do rio Tietê, até pensei que o cheiro vinha do rio. Mas não, vinha do cu do moleque mesmo. E se não me falha a memória, eram daqueles peidos meio umedecidos, terríveis.
Daí pra frente até que eu já estava me acostumando com a situação. Tinha que ficar todo torto na poltrona, me fingindo de morto e ainda pensando em coisas boas pra tentar não deixar o ódio me consumir. Bom, só sei que horas depois aceitei meu destino e segui no meu canto tentando não desejar a morte pra alguém tão jovem.
De repente, quando eu tava quase dormindo, sinto uma mão em cima de mim. Bom, na verdade não era em cima de mim, era em cima do meu pinto. Bem em cima, bem colocada. Sem saída. O moleque tinha pegado no sono e deixou a mão escorregar pra cima de mim. Logo em cima do meu pinto.
Aí, fiquei naquela dúvida cruel: tiro ou não a mão do moleque de cima do meu pinto? Se tirasse a mãe ia ver na hora que eu tinha pensado em sacanagem. Se não tirasse, talvez ela percebesse meio tarde e pudesse achar que eu tava me aproveitando da situação. Só sei que mais ou menos por uns vinte minutos viajei com a respiração presa. Se meu pinto endurecesse iam me matar. Eu ia me matar...
Enfim, foda-se. Cansei de escrever esta merda.