quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sangue e suor

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A primeira pergunta foi: você já doou sangue alguma vez? Respondi que nunca e fiquei esperando que a enfermeira me dissesse alguma coisa doce do tipo: fica tranqüilo, é rápido e não dói nada. Mas ela não disse. (Musica de tensão).

Próximo passo: teste de anemia. Meu coração nessa hora lógico que disparou, até porque com essa cara de doente que tenho, as chances eram grandes do diagnóstico ser "paciente incapaz de doar até aceno de mão".
Aí, de repente, ela pega um negocinho e sem te avisar fura seu dedo. Uma dor enorme. Tudo bem, nem doeu, mas aquela gota que sangrou podia ter me matado de hemorragia (risos). Resultado: acabei passando com louvor no teste da anemia.

Agora era a hora da entrevista:
- Hepatite?
- Não.
- Fuma?
- Não.
- Bebe?
- Bebo.(sorri)
- É gay?
- Não.
- Não mesmo?
- Não. (Como assim "não mesmo"? Tenho cara de gay?)
- Quando transou pela última vez?
- Gaguejei. (sou mais acostumado a falar sobre masturbação)
- Usa camisinha sempre?
- Sempre.
- Sempre mesmo?
- Sempre mesmo. (o pior é que é sempre mesmo)
E assim por diante. Umas cinqüenta perguntas. Eu já estava vendo a hora dela perguntar se eu estava em dia com as prestações do Baú, mas não aconteceu.
Minha única cagada na hora de responder esse tal questionário foi que confessei que tinha almoçado uma feijoada completa.
Aí a moça me mandou ficar assistindo televisão na sala de espera por uma hora até meu sangue ficar sem a tal gordura do almoço. A sorte é que eu tinha levado um livro, porque a novela que passava no Vale a Pena Ver de Novo, eu já tinha assistido pra variar.

Então, durante este tempo segui lendo meu livro sobre o nazismo e descobrindo que naquela época, por ordem do Hitler, todo alemão que saia do país era obrigado a levar um monte de catálogos e folders falando bem da Alemanha pra entregar às pessoas comuns nos paises em que fossem conhecer. Genial né?
Mas voltando a sangria do porco que vos fala, é chegada a hora da verdade. Mesmo com a sala de espera vazia a enfermeira fez questão de me chamar gritando o meu nome e assim a acompanhei até o abatedouro.
Chegando lá, sentei naquela cadeira parecida com a de um dentista e comecei a ouvir as recomendações. Primeiro ela me perguntou se eu tinha almoçado bem. Não sei o que seria almoçar bem pra ela, até porque ela tinha uma cara de que almoçava Buchada de bode diariamente no boteco. Mas respondi que sim.
Aí ela perguntou se eu tinha medo de alguma coisa. Pensei em responder que tinha medo da fatura do meu cartão, mas me calei e me comportei como um homem.

Só sei que quando tomei coragem de olhar, já havia uma puta agulha grossa enfiada no meu braço e eu nem tinha sentido nada.
Então, ela meio apreensiva pela minha cara de defunto, reiterou que qualquer problema era pra chamá-la. Eu concordei com a cabeça e continue olhando pro outro lado pra não ficar impressionado com o meu sangue sendo derramado.
Porém, ela não teve muita coragem de sair de perto de mim e ficamos juntos até terminar tudo.

Já perto do fim, ela me entregou um saquinho e mandou eu comer tudo antes de sair. Mandou mesmo.
Numa hora dessas, qualquer pessoa normal come e pronto. Mas e se eu não gostasse do recheio do lanche? Só sei que fui tirando do saco aquele pão e rezando pra ser recheado com alguma coisa que eu gostasse. Pra minha sorte, era só um lanche com presunto e queijo. Ufa.

Depois disso e de mostrar que tinha comido tudinho, ela entregou meu RG e um questionário sobre a qualidade do atendimento deles. Respondi rapidamente que tudo tinha sido ótimo e saí de lá me sentindo literalmente mais leve.
Pra quem nunca tinha feito isso, acho até que me saí muito bem. Talvez a minha função na terra só tenha sido mesmo a de vir pro mundo e doar algum dia um pouco de sangue que ajudasse alguém a sobreviver. Se for só isso mesmo, tudo bem. Aceito meu destino.
Agora se você também ainda não descobriu sua função na terra e tem um tempinho livre pra se doar, dê um pulinho lá e doe seu sangue também. Ver toda aquela estrutura completamente vazia enquanto tanta gente morre por falta de sangue me cortou o coração. Ano que vem estarei lá de novo. E você, quando vai?

Maiores informações: http://www.beneficencia.org.br/doesangue.htm

Ou então
você pode ir doar no Hospital das Clínicas de São Paulo - Banco de Sangue - e informar que está doando por JOÃO LOURENÇO DE CAMPOS que está internado no Instituto do Câncer.
A filhinha querida dele, a Eli, ficará muito feliz com seu gesto.
kiss


3 comentários:

Bi disse...

Não precisa esperar 1 ano. Você pode doar de 3 em 3 meses, e ganha sangue novo de presente todas as vezes que faz isso. Na próxima, vá aqui na terra do nunca e me chem, que vou com você.
Beijos e melhoras pro pai da Eli.

Eli disse...

Amo vc, bjs

Sandra disse...

Fico comovida com estes gestos de amor explicito, muito mais explicito do que um "eu te amo". E por isso amo vc e amo a filhinha do seu Joãom também...
;o)
bjs