Parece até que foi ontem. Dez anos atrás eu era um moleque que bebia muito menos, mas que arriscava muito mais.
Lembro que bem naquela época de vestibular, enquanto todo mundo decidia suas futuras carreiras de sucesso entre ser doutor, administrador e etc, eu apenas queria saber de cursar filosofia, sem nem saber o que aquilo significava direito.
E, por incrível que pareça, contra a vontade dos meus pais e de todo o planeta, eu tentei mesmo passar no vestibular pra filosofia, mas fui reprovado, claro.
Nem tinha como ser diferente. Há dez anos atrás eu mal sabia escrever uma frase que fizesse algum sentido. Mesmo assim, alguma coisa dentro de mim me puxava pra aquele negócio de filosofia, como se fosse uma cruz que eu tivesse que carregar, sei lá.
O fato é que depois de ter sido reprovado, minha segunda opção no vestibular, claro, foi comunicação.
Comunicação é e sempre será o curso dos vagabundos. E como eu sempre tive um grande potencial pra coisa, não poderia ter feito uma escolha diferente.
De certa forma, eu até acreditei por um certo tempo que tinha mesmo talento pra trabalhar com televisão. Talvez por ter passado uns dezoito anos de vida deitado numa cama assistindo o Chaves, mas tudo bem. Era uma experiência inegável.
O curioso é que mesmo a minha vida tendo tomado rumos completamente inusitados a caminho da tal comunicação, a filosofia nunca perdeu espaço nos meus pensamentos. Muito pelo contrário. Na época da faculdade, além de um milhão de aulas inúteis que eu tinha, algumas delas às vezes me traziam filósofos que eu nem sabia que tinham existido.
O mais marcante, como em todo mundo que é meio doido, foi o meu encontro com o tal do Nietzsche.
Nietzstche era a resposta mal criada que eu sempre quis ter dado pro mundo inteiro. Ele criticava tudo. Falava mal de deus, do sistema, das pessoas, dos amigos, dele, de tudo. E eu adorava aquilo. Meter o pau no mundo era como um bálsamo pra minha alma. Não cicratizava minhas angústias, mas aliviava bastante.
Aí, o tempo foi passando, meus empregos foram mudando de área, meus desempregos se multiplicando, e a única coisa que nunca me abandonava era a vontade de questionar as coisas, de filosofar. Por mais fácil que fosse a minha vida, e ela sempre foi, nunca deixei de criticar, de questionar, de querer a resposta certa.
E tudo isso e todos estes anos só me levaram a crer que as escolhas que você faz na juventude têm, de certa forma, o poder de mudar o seu destino, mas não tem de jeito nenhum o poder de mudar você. Inclusive, aproveitando-se um pouco do que dizia o tal do Nietzsche: um dia todo mundo se torna o que é, querendo ou não.
E comigo não foi diferente. Tive uma educação rígida pra cacete, mas me tornei o cara que mais gosta de farra desse planeta. Meus pais nunca me deram um livro de presente, mas eu não me imagino sem uns livros no pé da cama. A coisa mais chata do mundo pra mim sempre foi escrever. Hoje, é não escrever. Enfim, querendo ou não, com sucesso ou não, com grana ou não, aos poucos o rio nos leva pro seu curso natural.
Claro que a grande realização pessoal só deve mesmo acontecer quando todo mundo, inclusive você, descobre que já pode sobreviver do que sempre pretendeu ser nesta vida. No meu caso, alguma coisa parecida com um filósofo putanheiro, que se alimenta da dor e do amor sem o menor pudor.
Porém, enquanto isso não acontece, não há também muito com o que se preocupar. Afinal, se o cara ali de cima não estiver errado, um dia, todo mundo vai ter a chance de se tornar o que é, mesmo já sendo o que sempre foi.
7 comentários:
Muito bom!
em nao sendo bom, belas palavras...
Comunicação é curso de vagabundo?
...
e Psicologia é curso de que?...
ueheuheueeheu
Voce escreve muito bem,não me parece vagabundo,não!
uehueheueheu
Voce vive a vida,e olha,se isso serve de consolo,não é só voce que é perturbado,com tendencias suicidas,e acha que ninguém te entende...não,viu?
ueheueheu
:)
Fiz comunicação e não sou vagabunda, trabalho prá caramba. Ah, seu presente continua comigo. bjs
Podicrê!!!
;o)
bj
que fundo...
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