O empirismo

Às vezes ouço as pessoas dizerem que não sabem vomitar e que sofrem com isso. Bom, eu também não sabia vomitar. Bebia, passava mal, mas nunca vomitava.

Aí, um belo dia vomitei. Assim mesmo, sem nenhuma explicação. Apenas vomitei. E assim, deste dia em diante, meu corpo aprendeu a milagrosamente vomitar sozinho e sempre na hora certa.

Bom, mas também tem uns dias em que a gente não tá bem, mas não vomita também, como se o nosso corpo tivesse esquecido de se cuidar. E foi aí que desenvolvi uma técnica muito boa.

Na verdade, não desenvolvi propriamente. Ela foi acontecendo devido a intimidade cada vez maior que um bêbado adquire com uma privada em sua vida privada.

Em nossa vida privada, muito mais coisas acontecem em um banheiro do que as pessoas possam imaginar. Enfim, deixa pra lá.

Voltando à aula, minha técnica é muito simples. Basta que você esteja com vontade de cagar. Esse, se é que posso chamar assim, é o ingrediente principal para que você consiga vomitar nessas manhãs em que acorda ruim, com cabeça latejando, enjôo, etc.

Funciona mais ou menos assim: você se tranca no banheiro, tira toda a roupa e senta-se na privada. Você deve estar se perguntando: por que tirar toda a roupa? Bom, de fato não precisa. Mas sempre acho que, cinematograficamente falando, fica mais bem dramatizada a cena quando a gente vomita nu e de joelhos para uma privada. Enfim, voltando.

Aí, você senta na privada e caga. Cague o que puder, quiser, sair e melar. Cague, cague, cague e cague. Então, limpe a bunda, como sempre faz. Ajoelhe-se bem em frente à privada, olhe fixamente pra aquela merda toda, se reconheça nela, sinta nojo de você e de tudo o que faz com seu corpo tentando fugir dos seus problemas e, finalmente, comece a inspirar profundamente todo aquele odor. Mas inspire pra valer, de preferência olhando fixamente pra aquilo tudo e pronto. É tiro e queda. Se até a terceira inspirada você não começar a vomitar copiosamente, aí, definitivamente, você é um merda. Eu garanto.